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Sobrevivente de tromba d’água em rapel relata dias de caminhada em busca de ajuda

Eduardo e o pai, Francisco, em casa na manhã desta quarta-feira (26) — Foto: Graziela Fávaro/EPTV

Sobrevivente da tragédia que matou cinco pessoas em uma tromba d’água em São João Batista do Glória (MG), Eduardo Gomes Moraes, de 35 anos, contou as dificuldades que enfrentou em busca de ajuda nos últimos três dias. O rapaz estava desaparecido desde o incidente na Cachoeira Zé Pereira, no último sábado (22), e voltou andando para a casa da família, em Passos (MG), após ser ajudado por um morador na noite desta terça-feira (25).

“O que eu passei, não quero que ninguém passe. O medo é grande, porque não tinha onde você socorrer. Fiquei muito traumatizado, é muito assustador. Só tive medo de morrer uma hora, na tromba d’água. Depois disso, tive medo mais não”.

Eduardo nadava com amigos, junto com outro grupo que fazia rapel no local, quando foi atingido pela tromba d’água. O que se sabe sobre o incidente:

  • um grupo de amigos nadava e fazia rapel na Cachoeira do Zé Pereira, na zona rural de São João Batista do Glória;
  • uma tromba d’água atingiu o local;
  • quatro pessoas estavam na trilha de rapel e três nadavam;
  • as quatro que estavam no rapel, não conseguiram se salvar;
  • um dos homens que estava nadando conseguiu sair e foi buscar ajuda;
  • Pollyana estava nadando e quase foi salva por Eduardo, mas escorreu e foi levada pela água;
  • bombeiros chegam ao local e não encontram Eduardo;
  • começam as buscas por sobreviventes no domingo cedo;
  • os corpos de Mariana, Maurílio, Alexsandro e Pollyana são encontrados ainda no domingo;
  • o corpo de Gustavo é encontrado na segunda-feira;
  • bombeiros encerram as buscas de terça-feira sem encontrar Eduardo;
  • Eduardo chega andando em casa em Passos, após receber ajuda de morador da zona rural de São João Batista do Glória.
  • “Estava chovendo forte. A pressão da água é um trem inexplicável. Foi questão de segundos, foi muito rápido. Não teve [tempo de sair]. Alta velocidade e não parava”, resume Eduardo.

    No momento em que a enxurrada começou e a água descia pelo paredão, Eduardo segurou a amiga Pollyana Laiane Diniz Furtado, de 26 anos. No entanto, não conseguiu evitar que ela fosse levada. O corpo de Pollyana foi encontrado no domingo (23), junto com outras três vítimas.

    “Eu segurei, ela estava comigo no meu ombro, eu deitei, ela estava deitada e eu em cima. Eu gritei: ‘Polyana, eu quero te salvar, não quero que você vai’. Aí na hora que a água começou a chegar, eu falei: ‘Se você não vier alto, não me ajudar, vai eu e você’. Eu vi que começou a pesar, eu vim pra cá, segurei a pedra, aí eu segurei a mão e o cabelo [dela]. Mas aí já escorregou, já era uma fatalidade”, lamenta.

    Eduardo contou que o amigo Guilherme, que escapou da água pouco antes, conseguiu sair para pedir socorro. Enquanto isso, ele buscou abrigo e não esperou a chegada dos bombeiros.

    “Fiquei com medo de ficar lá. Nesse intervalo, por que eu ia esperar ele lá? E se em uma hora, aonde eu estava, tivesse entrado água? Eu não vou correr esse risco. A água não parou não, até o tempo que eu fiquei lá, estava chovendo ainda. Ia ser um risco meu que ia correr”, diz.

    Para sair da cachoeira, Eduardo precisou escalar um paredão. De sábado até esta terça-feira, foram três dias de caminhada. O tempo todo, conseguiu beber água de rios e tomar banho. De alimento, comeu dois sanduíches que estavam em uma mochila.

    “Morrer eu não ia não. Porque aonde eu passava tinha água. Eu tomava água feito doido. Ela matou a fome”, afirma.

    Durante a caminhada, Eduardo conta que viu, mais de uma vez, o helicóptero do Corpo de Bombeiros que apoiava a buscas pelas vítimas. “Vi todos os dias. Eu abanava a mão, eu gritava. Mas não me viam”.

    Ele conseguiu chegar a uma fazenda, onde morava um conhecido da família. “Eu falei com ele assim: ‘Eu estou morto de fome, você me arruma um arroz, um feijão e um ovo?’. Eu já estava ficando fraco, já estava assim sem resistência”.

    O dono da fazenda, Odair Marques Batista, quis ligar para o pai de Eduardo e avisar que o filho estava vivo, mas foi impedido pelo rapaz. “Aí eu falei, não vai ligar pro meu pai não. Chegando em casa lá eu dou grito, dou um abraço nele”.

    Fonte G1

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