A fuga empreendida por Lázaro Barbosa, 32 anos, após assassinar quatro pessoas de uma mesma família em Ceilândia, não mobilizou apenas os 300 policiais das forças de segurança do Distrito Federal e de Goiás. Os 20 dias do assassino pelas matas do Entorno também mudaram vidas de personagens que cruzaram o seu caminho e até hoje sentem os efeitos. Doze meses depois da caçada, o Correio retornou aos municípios goianos e conversou com pessoas que conheceram, tiveram contato ou se relacionaram com o assassino.
Luana Cristina Barreto, 31 anos, foi casada com Lázaro por dois anos e oito meses, com quem teve um menino, hoje com 4 anos. Mãe também de uma bebê de 5 meses fruto de outro relacionamento, a dona de casa contou, ao Correio, sobre as represálias e os preconceitos que ainda enfrenta por parte da sociedade, em decorrência da relação com o assassino, encerrada em 2016.
Definido por psicólogos do Complexo Penitenciário da Papuda como um homem agressivo, impulsivo e instável, essa personalidade de Lázaro jamais foi percebida por Luana. Para ela, o criminoso demonstrava ser uma pessoa atenciosa, prestativa e amorosa. Os dois se conheceram por meio de uma tia dele, que morava em frente à casa de Luana na época. “Eu jamais imaginei que ele fosse desse jeito. Era um excelente pai, que não deixou o filho passar necessidade. Quando ele não podia aparecer aqui (em casa), mandava a prima ou a tia para trazerem dinheiro, leite, roupas e alimentos”, contou a mulher.
Luana reside na mesma casa, em Águas Lindas de Goiás, com a mãe, Isabel Evangelista, 66, e as duas crianças, desde quando tudo ocorreu, há um ano. Desempregada, ela é a responsável pelo sustento da família e sobrevive com R$ 200, recebidos pelo Bolsa Família. “Não consigo emprego por causa da relação que tive com ele. As pessoas me olham com nojo e de maneira sombria. Mas por quê? Eu não tive nenhuma participação nos crimes que ele cometeu. Havíamos terminado há quatro anos e só tínhamos contato quando ele trazia algo para a criança”, desabafa.
Descoberta
Na madrugada de 9 de junho, quando Lázaro invadiu uma casa no Incra 9 de Ceilândia, assassinou o empresário Cláudio Vidal de Oliveira, 48, os dois filhos, Gustavo Marques Vidal, 31, e Carlos Eduardo Marques, 15, e sequestrou e matou a matriarca da família, Cleonice Marques de Andrade, 43, Luana, a mãe e o filho estavam na residência de uma amiga, no Pinheiro 1, em Águas Lindas, porque não havia luz em casa.
A notícia de que o ex-marido era o autor da chacina só veio no dia seguinte. “Ficamos sabendo pela imprensa e eu fiquei pasma. De forma alguma, me passou pela cabeça que ele pudesse ser capaz de fazer isso”, disse. Um dia antes de morrer, a polícia recebeu uma denúncia de que supostamente Lázaro teria passado na casa de Luana para pedir comida e dinheiro. A informação é desmentida por ela.
A ex-mulher e a mãe foram levadas à delegacia e indiciadas por favorecimento pessoal. Na conclusão da Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO), as duas foram responsáveis por ajudar na fuga do criminoso e tiveram contato com o fugitivo dias antes dele ser morto em um confronto. “Invadiram minha casa, apontaram uma arma na cabeça do meu filho sem motivo algum. Eu estava grávida e fui agredida por não ter feito nada. Como eu iria esconder o Lázaro aqui, sendo que eu não tinha informação dele há meses? A pessoa, para ter certeza, precisa ter provas.”
Ao ser questionada sobre o fim da caçada a Lázaro, a mulher desabafa e disse que o preferia vê-lo preso. “Quando soube da morte dele, fiquei triste. Por causa da ganância de muitos, hoje ele está debaixo do chão. Não era o que eu queria e acho que nem as autoridades”, pontuou.
Fonte Correio Braziliense
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