Justiça francesa autoriza galo a continuar cantando; queixosos terão que pagar danos morais à proprietária

(foto: XAVIER LEOTY / AFP)
O animal se tornou um símbolo da resistência rural na França, onde uma petição para “salvá-lo” recebeu mais de 140.000 assinaturas; entenda Um tribunal francês autorizou nesta quinta-feira (5) o galo Maurice a continuar cantando, rejeitando a queixa dos vizinhos que acusaram a ave de acordá-los muito cedouma sentença vista como uma vitória para as tradições rurais da França.

“Maurice venceu e os queixosos terão que pagar mil euros à proprietária por danos morais”, declarou Julien Papineau, advogado da proprietária Corinne Fesseau ao deixar o tribunal de Rochefort (sudoeste). “Não tenho palavras. Vencemos. É uma vitória para todas as pessoas na minha mesma situação. Espero que crie jurisprudência”, disse a dona do galo, que foi alvo de manchetes em todo o mundo.
“Todo mundo vai ser protegido: sinos, sapos, etc.”, acrescentou, referindo-se a outras queixas semelhantes contra os ruídos do mundo rural, que muitas vezes opõem os habitantes de sempre aos ‘neorrurais’. Seu cacarejo ao amanhecer incomoda os proprietários de uma residência de veraneio na ilha turística de Oleron, no sudoeste da França, que o denunciaram na justiça por “dano sonoro”.
Não é um julgamento “da cidade contra o campo. É um problema de dano sonoro. O galo, o cachorro, a buzina, a música… é um caso de barulho”, sustentou o advogado Vincent Huberdeau, que representa os autores da denúncia, em audiência em 4 de julho. A dona do galo argumentou no tribunal que nunca havia recebido queixas sobre o cacarejo de Maurice. “Os galinheiros sempre existiram. Entre 40 vizinhos, incomoda apenas dois”, apontou. Para Fesseau, “o campo tem direito a seus ruídos. O galo tem o direito de cantar”. O caso de Maurice, embora anedótico, ilustra temores de que o mundo rural desapareça na França, devido ao declínio da atividade agrícola e pecuária e ao êxodo de jovens para a cidade. Bruno Dionis du Séjour, prefeito da pequena cidade de Gajac, no sudoeste da França, publicou uma carta enfurecida para defender o “direito” dos sinos das igrejas a tocar, das vacas de mugir e dos burros de zurrar. A alusão aos sinos se deve a uma disputa de 2018 em uma cidade na região de Doubs (leste), onde os proprietários de uma residência de veraneio reclamaram que os sinos tocavam às 07h00, muito cedo na sua opinião.