Em debata Datena dá cadeirada em Pablo Marçal

(O GLOBO) A cadeirada que José Luiz Datena (PSDB) deu na cabeça de Pablo Marçal (PRTB) durante o debate da TV Cultura pode se converter na oportunidade que o ex-coach procurava para dar novo impulso à sua candidatura e principalmente reduzir a rejeição a seu nome, que vinha crescendo tanto segundo o Datafolha como segundo a Quaest.

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Marçal sabe disso, tanto que aproveitou uma pergunta de Datena para provocá-lo sobre uma acusação de assédio sexual – arquivada pela Justiça – e depois, sorteado para perguntar, questionou o adversário sobre quando desistiria da corrida.

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Na réplica, Datena se descontrolou quando Marçal o chamou de “arregão” e disse que Datena não era homem para lhe dar um tapa. Partiu para cima do ex-coach com uma cadeira.

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O movimento de Datena era esperado e muito provavelmente até planejado pelo ex-coach, que já declarou em uma entrevista ao podcast “Flow” que desenvolvia estratégias para “entrar na cabeça” dos adversários. Na ocasião, ele falava do momento em que tomou um tapa na mão de Guilherme Boulos, depois de empunhar a carteira de trabalho diante dele numa sugestão de que o candidato do Psol não trabalha.

“Foi o investimento de uma hora pra entrar no emocional dele. Não foi só a carteira de trabalho. Aquilo ali tem um investimento antes, não é assim não”, disse Marçal sobre o episódio.

Nos últimos dias, o candidato do PRTB já vinha dizendo nas entrevistas que o debate da TV Cultura seria “a maior baixaria de todos os tempos “. Não era difícil perceber que Datena era uma presa fácil para seu “investimento”, uma vez que o apresentador chegou a chorar e deixar a sabatina do UOL ao ser questionado sobre as dificuldades que vinha enfrentando nas pesquisas. O sorteio deu a Marçal a oportunidade que ele esperava para “entrar” na cabeça de Datena.

O próximo passo é óbvio e já está em curso nas redes sociais de Marçal: explorar a condição de vítima para tentar reduzir a rejeição, que vinha subindo em parte pela agressividade que o ex-coach vinha demonstrando nos debates. Em um post em suas redes sociais, Marçal combinou imagens do atentado a Trump e da facada em Bolsonaro à da cadeirada.

De acordo com a última pesquisa Datafolha, 44% dos entrevistados dizem não votar de jeito nenhum em Marçal – um salto de seis pontos percentuais em relação ao levantamento divulgado no início deste mês.

Dos entrevistados, 51% avaliaram Pablo Marçal como o candidato mais desrespeitoso, bem à frente dos outros candidatos – Guilherme Boulos (10%), Datena (4%), Ricardo Nunes (4%) e Tabata Amaral (2%)

A estratégia de apelar à empatia do eleitorado posando como vítima é uma forma manjada de recuperar terreno em disputas, mas como não há nenhum episódio semelhante na história das campanhas políticas o Brasil, é difícil prever o resultado.

Alguns analistas experientes, porém, acham que, dadas as circunstâncias, o tiro pode sair pela culatra. “Ficou claro que ele provocou o destempero”, disse à equipe da coluna o cientista político Antonio Lavareda.

Datena mostrou que aposta nessa interpretação e já aproveitou para tentar passar a imagem de “justiceiro”. Na entrevista que deu depois da cadeirada, já bem mais calmo, ele disse que sua sogra teve três AVCs e morreu por causa do desgosto com a acusação de assédio. “E agora eu achei que devia uma satisfação a ela por ter sido acusado por um canalha desses, que ontem mesmo me convidou para tomar um café”. O candidato do PSDB disse ainda que não se arrependeu. Para Lavareda, porém, quem mais pode lucrar com o episódio é o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição. “O “desenergizado” acaba parecendo mais adequado”, disse ele.

O prefeito, aliás, terminou o debate dizendo que pessoas desequilibradas não podem governar uma cidade como São Paulo, enquanto os cortes de Marçal sobre a agressão se multiplicavam nas redes sociais.

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