A união de Sueli Gomes da Silva, 56 anos, com o filho tirado dela ainda recém-nascido, há 38 anos, exigiu um longo trabalho de apuração da Polícia Civil do Distrito Federal. Foram 15 pessoas investigadas e a busca por documentos e registros hospitalares até que mãe e filho, finalmente, se encontrassem. No entanto, um detalhe foi crucial para que os investigadores soubessem que tinham chegado mesmo a Luís Miguel: uma leve anomalia congênita nas mãos. Segundo o delegado responsável pelo caso, Murilo Freitas, da 14ª Delegacia de Polícia, Sueli contou aos investigadores que seu filho havia nascido com sindactilia, uma condição congênita que deixa dedos dos pés ou das mãos “grudados”. Quando as buscas apontaram que o filho da moradora de Brasília era um morador da Paraíba, investigadores perguntaram a ele se ele tinha nascido com essa condição. “E ele confirmou que nasceu assim e que realizou uma cirurgia nas mãos”, conta Freitas.
A resposta de Luís Miguel, registrado como Ricardo Gomes pela família que o criou, fez os investigadores terem certeza de que as buscas tinham terminado, conforme comprovaram exames de DNA realizados logo em seguida. “Mesmo enfrentando muitas dificuldades, sempre fomos motivados a propiciar uma resposta humana, um reencontro de uma mãe com um pedaço dela mesma”, diz o delegado.
Sueli procurou a polícia em 2013, depois de passar décadas sofrendo em silêncio. Ela tinha 16 anos quando deu à luz Luís Miguel, em 1981, e teve a criança tirada de seus braços dois dias após o nascimento do filho, logo depois de receber alta do hospital. Ela apontou como principais responsáveis pela subtração da criança um casal de funcionários e a mulher que dirigia o orfanato onde vivia desde os 9 anos. A então adolescente foi ordenada a esquecer o filho, mas não aceitou o que tinham feito com ela. Quando conseguiu se sustentar sozinha, deixou o orfanato e passou a buscar pelo filho. O pedido de ajuda à polícia foi feito por meio de uma carta, na qual contou sua história e denunciou todos os abusos e violências que havia sofrido. Segundo o delegado, assim que souberam da história, os investigadores perceberam que dificilmente alguém seria punido. “A gente já percebia que muitos dos crimes apontados não seriam mais alcançáveis pela lei. Principalmente devido à prescrição penal, já que estamos falando de algo acontecido há quase quatro décadas”, diz o policial. Depois, as investigações mostraram que os autores do crime já tinham morrido. O objetivo era mesmo unir mãe e filho.
Segundo Freitas, foi uma investigação muito difícil, porque o crime aconteceu quando não havia registros eletrônicos. “Tivemos que acessar muitos arquivos físicos. E, mesmo nessa pesquisa, não conseguimos identificar nenhum registro deste nascimento no hospital, o que nos levou até a questionar se esse menino havia mesmo nascido”, conta o policial.
O trabalho, contudo, prosseguiu e foram ouvidas 15 pessoas, até que as investigações apontaram para uma família que havia morado no Gama, mudou-se para a Paraíba e tinha um filho que estava com 38 anos. “A partir de determinado momento, coincidências foram apontando para ele. Nós, da Polícia Civil, não podemos mudar o passado, mas podemos, com muito empenho e vontade, possibilitar um novo futuro”, afirma Freitas. O futuro começa a ser construído. Na noite de quarta-feira, Sueli e Luís Miguel conversaram pela primeira vez, por meio de uma chamada de vídeo. “Foi mágico”, diz a mãe. O primeiro encontro acontecerá em breve, em Brasília. “É uma linda história, com um lindo final”, comemora Sueli.
Fonte Correio Braziliense